domingo, 4 de abril de 2010

Página 12



O monstro se exila junto aos seus semelhantes numa fazenda distante e erma.
A estação é propícia a colheita de crânios e as chuvas abundantes propiciam a plantação.
Apesar de horrorosos, constumam ter classe em suas vestimentas e pronunciando enunciados difíceis e palavras pouco convencionais, se revelam exímios comerciantes, prosperando nos mercados da região e arredores.

Página 11


A moça nua desistiu de sair da garrafa.
Apesar de já ter bebido quase todo o  líquido sozinha, ainda é capaz de declamar um verso inteiro com rimas perfeitas. A coroa já não brilha mais.
Note ao fundo dois detalhes: uma janela opaca e um retrato de uma atriz famosa dos tempos áureos do teatro nacional.

Página 10



O herdeiro é colocado em destaque, sobre um pilar esculpido com rostos de seus antepassados, no meio da sala completamente vazia. Todos saíram para acompanhar o festejo fúnebre, é dia de festa no vilarejo.
Em uma das mãos exibe a chama da derrota, passada de geração em geração e que deverá ser perpetrada para seu bastardo, num momento oportuno. Na outra mão ele lança os dados da sorte, na esperança de que um dia, o número mostrado lhe traga fortuna e prosperidade.
A xícara na qual se encontra mergulhado, também já fora usada em demasia e aos poucos o chá esfria e se torna amargo.
O boneco no canto inferior direito segura uma placa que diz: "Amestrados aqueles que seguem as tradições."
Ponto

Página 09



O tolo partido ao meio é pendurado pelos cabelos sobre as águas geladas do lago.
O antropomorfo exalando idéias medíocres, seguindo sempre na direção correta.
A garrafa de vinho barato e a caneca antiga e empoeirada, pronta para receber o líquido.
O anjo caído é guiado por seu demônio - um presente de Deus para sua estadia naTerra. A praia de crânios por onde ele caminha, em passo trôpegos é na verdade, ilusão. Os olhos que antes guiavam, foram deixados pra trás e mesmo abertos, com pupilas dilatadas, não distinguem o certo do errado.
A nós que o observamos de longe, só restam as orações e súplicas de misericórdia.

Página 08


A fechadura, a porta e a chave. Três símbolos arcaicos de libertação, um levando ao outro, não nescessariamente nessa ordem.
O bêbado se distrai, em sua ignorância etílica, rodeado por paspalhos. Seu coração está a mostra e apesar do medo, quer alguém sentado ao seu lado na mesa da taberna. O gato preto é sinal de bom agouro, a  bonança que sempre desejou está por vir, pois que esteja preparado para isso.
A lambisgóia com o crânio em chamas levado na língua teme os bons tempos e aos poucos se desmancha em cinzas sob a cabeça do homem confuso.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Página 07



"Hilário!"
Assim seria descrita essa página por vários especialistas no assunto.
O homem precavido ( observe a cerca de arame farpado sobre o muro ) é atormentado por três encostos alcoólatras. A garrafa, a caneca e a taça nos remete ao clima de festa, ou comemoração.

A figura central abriu mão do próprio rosto para encarnar o papel de uma garoupa, mas ainda sim, usa uma cartola de marca famosa como indumentária, assim como os três assombrosos espíritos.

Note quantas placas de sinalização se fazem nescessárias para que o pateta permaneça em pé. O triangulo dividido em três nada mais é que a representação mística das três regras áureas.

São elas:

1- Favor não tocar!
2- Proibido acrescentar sentenças!
3- Se é assim pode!

Página 06

Aqui temos o homem vendado com a cabeça em chamas. A ponte nos remete à um ritual de passagem, um caminho a ser percorrido até o outro lado. A criatura que que respira por baixo da construção não representa perigo...  apenas se sente bem, mergulhado em águas turvas.
A cidade borbulha sentimentalismos bobos e ao fundo vê-se a grande chaminé que cospe corantes artificialmente coloridos na atmosfera local.
As pessoas gostam disso.

O poste no primeiro plano está, na verdade, queimado.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Página 05



O pobre diabo se joga rumo ao desconhecido no bairro comercial da cidade grande. Ele está prestes a ser engolido por uma criatura nova, desprovida de sentimentos ou crenças religiosas e que se arrasta pelo lixo reciclável, jogados nos fundos das grandes companhias. A escada simboliza tanto a subida ou nesse caso, a descida voluntária. O que o demônio encontrará nas entranhas daquela criatura? Só deus saberia dizer...

Página 04



Os nove arcanos

1- O homem de camisa listrada carrega por cima da cabeça um olho só, que chora 4 vezes ao ano.

2- A mulher arranca as próprias mãos para não se coçar. Os ganchos que agoram substituem os dedos servem para algo que ela não mais se recorda.
3- O careca caolho fuma um cigarro de menta. O "s" em sua testa é uma cicatriz da Décima Quinta Guerra de Bairros daquele Município.

4-
O veado com chapéu de veludo estende a mão aos transeuntes.

5-
No centro da página temos ninguém mais, ninguém menos que Belzebu que observa a todos com o olho que ainda lhe resta.

6- O corpo da mulher exala rancor. Ela bebe sozinha em companhia de ninguém.
7-
A caveira proletária. Não se sabe quem ou o que é. Isso é irrelevante.

8-
A dançarina feliz, um segundo antes de lesionar o Tendão de Aquiles num passo novo que havia sonhado na noite anterior.

9-
O pequeno ser é levado pela correnteza sem que ninguém o veja.

Página 03



A Rainha de Lá ergue os braços, em oferenda à um deus qualquer. Em suas mãos: um peixe de escamas brilhantes e um olho castanho claro, da cor da terra daquela região. Uma garrafa do melhor vinho artesanal ( comprado no comércio local ) e uma taça simbolizando o recipiente da vida.
Note que os filhos gêmeos repousam ao lado da mãe com seus tentáculos.

O cão fumante reflete sobre sua posição no triste drama da existência enquanto um olho que um dia será maior que a barriga palpita no lugar do coração ( agora, acima da coroa da Rainha ).

A carcaça de peixe no canto superior direito é apenas uma carcaça de peixe decorativa.

Página 02



O pensador, sentado em sua poltrona de mármore, discursa em praça pública para uma platéia distraída. Em suas mentes a figura de Jocasta; a cortesã européia; flutua sem roupas no limbo de suas próprias existências.

Página 01



… na qual o homem bem vestido recita versos satânicos segurando um crânio em chamas de alguém não identificado até então. Vemos ao fundo um pequeno diabo, numa velha lixeira de alumínio arrotando o almoço do dia anterior em frente à uma oficina de bicicletas.

A nota de rodapé nos alerta para o perigo que chega dos céus.

Uma tempestade está a caminho!