domingo, 4 de abril de 2010

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O monstro se exila junto aos seus semelhantes numa fazenda distante e erma.
A estação é propícia a colheita de crânios e as chuvas abundantes propiciam a plantação.
Apesar de horrorosos, constumam ter classe em suas vestimentas e pronunciando enunciados difíceis e palavras pouco convencionais, se revelam exímios comerciantes, prosperando nos mercados da região e arredores.

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A moça nua desistiu de sair da garrafa.
Apesar de já ter bebido quase todo o  líquido sozinha, ainda é capaz de declamar um verso inteiro com rimas perfeitas. A coroa já não brilha mais.
Note ao fundo dois detalhes: uma janela opaca e um retrato de uma atriz famosa dos tempos áureos do teatro nacional.

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O herdeiro é colocado em destaque, sobre um pilar esculpido com rostos de seus antepassados, no meio da sala completamente vazia. Todos saíram para acompanhar o festejo fúnebre, é dia de festa no vilarejo.
Em uma das mãos exibe a chama da derrota, passada de geração em geração e que deverá ser perpetrada para seu bastardo, num momento oportuno. Na outra mão ele lança os dados da sorte, na esperança de que um dia, o número mostrado lhe traga fortuna e prosperidade.
A xícara na qual se encontra mergulhado, também já fora usada em demasia e aos poucos o chá esfria e se torna amargo.
O boneco no canto inferior direito segura uma placa que diz: "Amestrados aqueles que seguem as tradições."
Ponto

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O tolo partido ao meio é pendurado pelos cabelos sobre as águas geladas do lago.
O antropomorfo exalando idéias medíocres, seguindo sempre na direção correta.
A garrafa de vinho barato e a caneca antiga e empoeirada, pronta para receber o líquido.
O anjo caído é guiado por seu demônio - um presente de Deus para sua estadia naTerra. A praia de crânios por onde ele caminha, em passo trôpegos é na verdade, ilusão. Os olhos que antes guiavam, foram deixados pra trás e mesmo abertos, com pupilas dilatadas, não distinguem o certo do errado.
A nós que o observamos de longe, só restam as orações e súplicas de misericórdia.

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A fechadura, a porta e a chave. Três símbolos arcaicos de libertação, um levando ao outro, não nescessariamente nessa ordem.
O bêbado se distrai, em sua ignorância etílica, rodeado por paspalhos. Seu coração está a mostra e apesar do medo, quer alguém sentado ao seu lado na mesa da taberna. O gato preto é sinal de bom agouro, a  bonança que sempre desejou está por vir, pois que esteja preparado para isso.
A lambisgóia com o crânio em chamas levado na língua teme os bons tempos e aos poucos se desmancha em cinzas sob a cabeça do homem confuso.